Sim, nós temos a polícia que mais mata no mundo, com mais de 6.000 mortes em 2019, patamares elevadíssimos quando comparados com os anos anteriores. Porém, era de se esperar que, com o advento da pandemia do covid-19, a letalidade policial seria menor, mas, para a surpresa de todos, eis que no primeiro semestre de 2020 a letalidade policial bateu o recorde de 2019.


Operações policiais no Rio de Janeiro

Os números continuam a crescer, mesmo no estado do Rio de Janeiro, onde as operações policiais em comunidades estão restritas devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que impôs uma serie de regras a serem seguidas para que tais operações possam ser realizadas.

Certamente a culpa por essa alta taxa de letalidade não pode recair apenas sobre os ombros dos policiais, e sim a fatores que fogem ao seu controle, entre eles a política de enfrentamento que, por décadas, impera nos governos estaduais e agora também explicitamente incentivada pelo governo federal, a falta de planejamento da segurança publica e a falta de treinamento e condições de trabalho dos policiais.


Os reflexos da ditadura militar

Quanto a política de enfrentamento, ela ainda é consequência dos anos de ditadura militar, em que as polícias militares eram diretamente subordinadas ao exército, servindo como seu braço executor e repressor, fazendo com que até hoje Governadores se sintam verdadeiros Generais a frente de seus destacamentos, incentivando ou fazendo vistas grossas as altas taxas de letalidade policial.

Para comprovar isso não precisa ir longe, basta passar em frente ao Comando Central das polícias militares, onde se pode ver a denominação “Quartel General” mesmo não existindo nas polícias militares o posto de General, o que demonstra uma triste herança dos tempos da ditadura.

Estes e muitos outros aspectos nos conduzem hoje ao cenário em que vivemos, onde temos a polícia que mais mata em todo o mundo, e por mais incrível que pareça, a polícia que mais mata também é aquela que mais morre no mundo, vitimando centenas de policiais a cada ano.


Prof. José Ricardo Bandeira

É Perito em Criminologia e Psicanálise Forense, Comentarista e Especialista em Segurança Pública, com mais de 1.000 participações para os maiores veículos de comunicação do Brasil e do Exterior. Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina e Presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil.